Papa Bento XVI
Encíclica « Deus caritas est », 5-6 (trad. © Liberia Editrice Vaticana)
Encíclica « Deus caritas est », 5-6 (trad. © Liberia Editrice Vaticana)
«Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la;
mas quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, há-de salvá-la.»
O modo de exaltar o corpo a que assistimos hoje é
enganador. [...] Na realidade, para o homem, isto não constitui
propriamente uma grande afirmação do seu corpo. Pelo contrário, agora
considera o corpo e a sexualidade como a parte meramente material de si mesmo,
a usar e explorar com proveito. [...] A fé cristã sempre considerou o
homem como um ser unidual, em que espírito e matéria se compenetram
mutuamente, experimentando ambos, precisamente desta forma,
uma nova nobreza. Sim, o eros quer-nos elevar «em êxtase» para o Divino,
conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um
caminho de ascese, de renúncias, de purificações e de saneamentos.
Concretamente como se deve configurar este caminho
de ascese e purificação? Como deve ser vivido o amor, para que se
realize plenamente a sua promessa humana e divina? [...] A «agapê»
tornou-se o termo característico para a concepção bíblica do amor. [...]
Este vocábulo exprime a experiência do amor que se torna verdadeiramente
descoberta do outro. [...] Agora, o amor torna-se cuidado do outro e
pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no
inebriamento da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se
renúncia, está disposto ao sacrifício, mais ainda, procura-o. [...]
Sim, o amor é «êxtase»; êxtase, não no sentido de
um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo
permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si
[...], para o reencontro de si mesmo, mais ainda, para a descoberta de
Deus: «Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder,
conservá-la-á» (Lc 17, 33). [...] Assim descreve Jesus o Seu caminho
pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do
grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Mas,
partindo do centro do Seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a
sua plenitude, descreve também a essência do amor e da existência humana
em geral.
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