O madeiro
Todos os homens têm uma vocação comum. O Papa Beato João Paulo II escreveu no Catecismo da Igreja Católica que o ser humano como um todo tem a capacidade de Conhecer e Amar a Deus.
O madeiro onde Cristo foi crucificado possui um rico simbolismo de equilíbrio, mas não de igualdade. Jesus foi crucificado numa cruz. A cruz é um simbolismo teológico. Há o madeiro horizontal e o madeiro vertical.
O madeiro horizontal aponta para a terra, para os seres humanos. Assim, os seres humanos foram salvos pelo sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só o sacrifício infinito do homem-Deus, Cristo Jesus, pode livrar o homem da culpa infinita dos pecados do egoísmo, do orgulho e da desobediência à Deus.
Há também que se ver o madeiro vertical, que aponta para os céus. Esse madeiro aponta para Deus e isso implica que o Sacrifício de Jesus é válido para nos levar a amar a Deus sobre todas as coisas. Amar a Deus como Ele nos ama, de forma incondicional e perfeita, a ponto de dar a vida por amor.
Assim vemos que o amor a Deus é o bem supremo do ser humano e só depois de amá-Lo sobre todas as coisas, podemos dizer que amaremos ao próximo. É bom ver que Jesus mesmo pede “amai a Deus sobre todas as coisas” para depois pedir “amai ao próximo como a si mesmo”. Se não há amor a Deus, não há verdadeira caridade. Só a verdadeira experiência com Deus renova e nos faz amar plenamente, a Deus e ao próximo.
Essa experiência ocorre na Eucaristia, na Oração do Santo Terço e na recepção dos demais sacramentos à medida que almejamos as coisas do alto. Entretanto, olhar apenas para o madeiro vertical nos faz hipócritas, como os fariseus que por sua vez faziam coisas terríveis justificando o culto a Deus.
O jovem rico
A parábola do jovem rico é narrada nos três Evangelhos Sinóticos. Todavia, talvez nenhum deles narre essa passagem de forma tão plena como o Evangelho de São Marcos. Diz a tradição que São Marcos começou a seguir a Jesus com 14 anos de idade, mas ele não foi um dos apóstolos. Os olhos curiosos de São Marcos narraram então em Mc 10, 17-25 uma das mais belas e mais confusas passagens do Evangelho.
Notamos que o jovem se aproxima chamando Jesus de bom e pergunta o que é necessário para alcançar a salvação. O Bom Mestre então pergunta: Porque me chamas bom? E diz que só Deus é bom! Assim somos tentados a pensar que Jesus disse que Ele não é Deus. Todavia, seguindo o texto, vemos que Jesus diz ao jovem quais coisas são necessárias para se chegar ao Reino dos Céus. Jesus então diz vários mandamentos, mas não cita o principal: Amar a Deus sobre todas as coisas!
Se o jovem rico de fato amasse a Deus, Ele teria dito que chamava Jesus de bom porque Jesus é Deus, mas ele não fez isso. Jesus ainda dá outra chance ao Jovem dizendo a ele que ame ao próximo a ponto de doar todas as coisas para seguir a Deus, mas ele não quer. Por isso vemos que nem sempre as pessoas que dizem amar a Deus o amam de fato, pois o profundo amor a Deus transforma e faz com que as pessoas sejam caridosas.
I Coríntios 13, 1-8a; 13.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor .Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.”
Vemos então que a caridade é diferente da doação de bens, por isso Jesus testa a fé do Jovem rico olhando se ele é capaz de doar tudo aos pobres para segui-lo, mas o jovem rico mostra que não quando deposita sua confiança em seus bens e não em Deus. Santa Catarina de Sena distingue a caridade perfeita da caridade imperfeita. Para ela, a caridade perfeita é a que Jesus pede ao jovem rico, deixar tudo por amor a Deus, mas há a caridade imperfeita, de quem quer o bem do irmão porque sabe que Deus o ama, mas nem por isso doa todos os bens para seguir a Deus.
Portanto, não adianta o mundo querer fazer boas obras, pois será inútil. Enquanto o homem não aprender a amar à Deus, ele não vai entender que o próximo é irmão e que por isso devemos todos amar uns aos outros.
Poema de Madre Tereza
Sobre a caridade devemos ver o que fez certa mulher. Existiu uma mulher em certo tempo que vivia pobremente. Ela viajava pelo mundo pregando o Evangelho pelo exemplo e era de fato, um exemplo de caridade perfeita. Não raras as vezes pessoas comovidas pagaram passagens para ela junto à primeira classe e ela, com toda pobreza e simplicidade, colocava suas coisinhas em uma caixa de sapatos e seguia viagem com aquela bagagem sutil perto de todas as bagagens mais sofisticadas que haviam. Essa mulher é Madre Tereza de Caucutá que escreveu um texto que diz:
A inteligência sem amor te faz perverso,
A justiça sem amor te faz implacável,
A diplomacia sem amor te faz hipócrita,
O êxito sem amor te faz arrogante,
A riqueza sem amor te faz avaro,
A docilidade sem amor te faz servil,
A pobreza sem amor te faz orgulhoso,
A beleza sem amor te faz ridículo,
A autoridade sem amor te faz tirano,
O trabalho sem amor te faz escravo,
A simplicidade sem amor te deprecia,
A oração sem amor te faz introvertido,
A lei sem amor te escraviza,
A política sem amor te deixa egoísta,
A fé sem amor te deixa fanático,
A cruz sem amor se converte em tortura,
A vida sem amor não tem sentido...
In Caritas Christi
Eduardo Moreira
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