O sofrimento humano não é vontade de Deus, ele é consequência da entrada do mal no mundo. A escolha humana pelo pecado, isto é, por aquilo que é mal, que afasta de Deus introduziu a morte e o sofrimento no mundo. Podemos perceber que os sofrimentos são quase sempre causas diretas ou indiretas das escolhas humanas.
No entanto, não devemos achar que o sofrimento pessoal é somente consequência dos pecados individuais. Se assim fosse, os santos não teriam sofrido. Nossa Senhora, que não pecou, muito menos. E ainda, Jesus Cristo que não tinha pecado e era Deus nunca poderia ter sofrido. Com a entrada do pecado no mundo o sofrimento passa a ser uma característica da condição humana, independente se a pessoa peca ou não.
Mas, por que Deus permite que seus servos, pessoas que buscam e vivem a santidade de forma heroica sofram ou mesmo sofram mais que outras pessoas? O que temos que entender é que Deus nunca permite que algo ruim aconteça se um bem maior não puder ser tirado daquilo. Do maior mal cometido pela humanidade, do maior sofrimento de um homem, que foi a paixão e morte de Nosso Senhor, Deus retirou a salvação para o gênero humano. Dos nossos sofrimentos cotidianos Deus também pode retirar bens maiores.
No entanto, para entender quais são esses bens, temos que entender que a coisa mais importante para Deus é a salvação de nossas almas. Deus quer-nos junto à Ele, para isso nos criou, para participarmos de Sua vida bem aventurada. Tudo que Deus faz ou permite que aconteça tem esse objetivo. Por isso é tão importante fazermos a vontade de Deus e pedirmos em nossas orações que a vontade Dele seja feita e não a nossa, mesmo que isso seja difícil para nós. Desta forma, o maior bem que pode ser retirado dos nossos sofrimentos é a salvação das almas, seja da nossa ou da de outras pessoas.
Compreendemos, então, porque os santos foram pessoas que sofreram tanto, não que o sofrimento sozinho santifique, mas eles souberam sofrer santamente. O sofrimento pode santificar quando o aquele que sofre oferece seu sofrimento à Deus, quando aceita sua cruz sem reclamar, murmurar, maldizer sua condição. Quando mesmo na dor a pessoa é serena, forte, não perde a fé, a esperança e a caridade. Viver o sofrimento dessa forma não é fácil, mas quando se sofre com fé, oferecendo o seu sofrimento pela santificação das almas, que é o que deve ser mais importante para nós, a dor torna-se mais suave, o sofrimento parece-nos mais suportável. Foi por isso que Cristo aguentou tamanho sofrimento físico, psicológico e moral, porque ele sofreu por amor, sabia que seu sofrimento não seria em vão. Santos que sofreram tanto, alguns por anos de dor, outros receberam até as chagas de Cristo, aliaram o seu sofrimento ao de Cristo, sofreram por amor a Deus e ao irmão e desta forma conseguiram contemplar Deus face a face e sem dúvida contribuíram para que inúmeras almas também o fizessem.
Por isso, aprendamos a sofrer na fé, por amor, sabendo que nosso sofrimento não precisa ser em vão, que ele pode ajudar nossa santificação e na dos irmãos. Porém, só conseguiremos assim sofrer quando Deus for o centro e razão de nossa existência. Quando amar a Deus e desejar viver junto Dele for mais importante que tudo nessa vida. Enquanto as coisas desse mundo nos seduzem e nos escravizam, enquanto ser feliz nessa vida for mais importante que a felicidade eterna, será muito difícil se não impossível sofrermos desse modo santo e santificador. Então, oremos e busquemos sempre a Deus em primeiro lugar, pois, como diz santa Tereza D’ávila, quem tem Deus nada falta, só Deus basta. Quando só Deus nos basta, todo sofrimento não parece nada frente a bem supremo que é Deus.
Por Mariana Prado Borges
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