Muitas pessoas, ao longo dos anos, têm tentado defender absurdos, cada um maior que o outro. O presente artigo foi escrito com base em dados do livro O Cânon Bíblico – A Origem da Lista dos Livros Sagrados de Alessandro Ricardo Lima. Nesse artigo pretendemos refutar, com base em dados do citado autor, argumentos lançados de forma mentirosa sobre a Igreja Católica para falar da origem do Cânon Bíblico Cristão.
Como se não bastasse a tempestade provocada pelos livros apócrifos gnósticos encontrados no Egito durante o século 20, também outros ataques provenientes dos protestantes, vêm de mãos dadas aos não cristãos para tentar ferir a Igreja Católica com calúnias. Dessa vez trataremos da mentira propagada que afirma que a Igreja Católica adicionou livros “apócrifos” à Bíblia durante o Concílio de Trento (1545 – 1563 d.C.) numa tentativa de incriminar a pseudo-reforma protestante.
O Cânon Bíblico Católico é a lista dos livros sagrados e divinamente inspirados que os cristãos elaboraram já nos primeiros séculos do cristianismo. Há uma falsa afirmação de que o Concílio de Nicéia (317 d.C.) haveria já ditado um cânon bíblico, o que nunca existiu. Não há qualquer citação em nenhuma parte do Concílio a respeito de cânones da Sagrada Escritura. Entretanto, é mesmo sobre polêmicas que esse artigo vem falar.
Os Concílios de Nicéia (317 d.C.), Trento (1545-1563 d.C.) e Vaticano II (1962-1965 d.C.) foram os mais polêmicos da história da Igreja. O primeiro porque se tratava da legalização do culto cristão, até então perseguido pelo Império Romano. Culpa-se a Igreja, sem nenhum fundamento, de ter se vendido ao paganismo após esse concílio, o que é desmentido pelos testemunhos dos Santos Padres anteriores ao ano 317 d.C. O segundo porque foi a Contra-Reforma, que acabou com a farsa de que a pseudo-reforma era o retorno às origens do cristianismo e o terceiro, porque mudou a cara da Igreja Católica.
É comum em materiais protestantes vermos então ataques colocando mentirinhas nesses três concílios para justificar o proceder desses nossos irmãos separados. Mentirinhas que são mentiras de qualquer forma e que acabam fazendo com que muitos entrem no erro.
Quanto ao cânon bíblico, sabemos que esse é diferente na Igreja Católica e nas igrejas protestantes. O cânon protestante não possui sete livros inteiros (I e II Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico, Sabedoria e Baruc) e mais ainda os acréscimos de Daniel e Estér presentes na Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento usada pelos judeus da época de Cristo. O grego (koiné) era a língua universal da época de Nosso Senhor, tanto que todo o Novo Testamento foi escrito em grego. Das 350 citações do Antigo Testamento no Novo, 300 são da Septuaginta.
A diferença entre os cânones católico e protestante, se devem ao fato de que Martinho Lutero durante a pseudo-reforma retirou todos esses livros e mais ainda vários livros do Novo Testamento que foram sendo incorporados mais tarde. Lutero chamou a Carta de Tiago de carta de palha, pois nessa Carta, São Tiago fala que a fé sem obras é morta (Cf. Tg 2, 26). Lutero defendia a salvação só pela fé com a fé sendo como um e sentimento. Por esse motivo esse livro teve de ser cortado do cânon luterano inicial.
Os demais livros foram cortados por diversos motivos, tais como a defesa clara do purgatório em II Macabeus (Cf. II Mac 12, 43-45). Outros motivos são devido a um mau-entendimento do contexto em que os livros haviam sido escritos, o que ocasionou que considerassem tais livros como não inspirados. Uma dessas divergências deve-se ao fato de que Eclesiástico defende a vingança contra o inimigo, o que é perfeitamente defendido no Antigo Testamento inteiro, onde valia a lei de Talião [olho por olho e dente por dente (Cf. Ex. 21, 24; Lv 24, 20; Dt. 19, 21)]. Essa lei só caiu no cristianismo quando Nosso Senhor Jesus Cristo a aboliu (Cf. Mt. 5, 38-39).
Para defender seu argumento os protestantes de hoje também dizem que, além dos livros deuterocanônicos conterem “heresias” (o que é falso), os judeus não usam esses textos. De fato, uma boa parte dos judeus de hoje não usa esses textos, mas outros ainda os usam. O que ocorreu é que até o ano de 91 d.C., os judeus ainda não haviam fechado seu cânon, conforme consta na Talmud, um documento judeu. Nesse ano, devido a expansão do cristianismo, os judeus se viram obrigados a conter tal expansão e também a divulgação dos documentos cristãos em sua cultura. Para isso passaram a recusar os livros que:
· Tinham algum ponto divergente em doutrina dos outros livros;
· Tinham sido escritos em outra língua que não o hebraico ou aramaico;
· Tinham sido escritos fora da terra santa;
· Tinham sido escritos depois de Esdras.
Por esses critérios, todo o Novo Testamento estaria fora da Bíblia, visto que esse foi completamente escrito em grego, depois de Esdras, alguns livros fora da terra santa e ainda por cima, tem ensinamentos contrários à lei dos judeus (Cf. Mt 5, 1 – 48; Toda a Carta de São Paulo aos Romanos). Por isso, vê-se a grande incoerência dos protestantes em seguir os judeus e não a Igreja dos primeiros séculos, mesmo porque os protestantes alegam ser o retorno à fé cristã primitiva.
Outros protestantes objetam ainda dizendo que o cânon bíblico do passado fora diferente do cânon atual da Igreja Católica. Isso não é de todo falso, mas faremos aqui uma explanação para que o leitor veja que se não foi igual ao cânon católico, muito menos foi então igual ao cânon protestante.
Grandes santos como São Militão de Sardes (177 d.C.) deixaram escritos dizendo que o cânon bíblico é exatamente o que usamos hoje. Entretanto, santos como São Jerônimo (347 – 420 d.C.), defenderam cânones diferentes por certo tempo. Outras pessoas defenderam cânones que possuem livros que hoje não estão na lista dos Livros Sagrados, tais como o proto-Evangelho de Tiago (que defende a virgindade perpétua de Nossa Senhora) e a Didaqué (primeiro catecismo cristão a ser escrito e que defende o batismo por aspersão).
São Jerônimo nem sempre defendeu o cânon bíblico tal como o conhecemos. Esse santo foi mandado à Jerusalém pelo Papa São Dâmaso I e lá teve influência dos rabinos judeus, o que o levou a rejeitar os livros de I e II Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria. São Jerônimo, entretanto, jamais rejeitou o livro de Baruc, que era uma parte do livro de Jeremias segundo a Septuaginta. Jamais também rejeitou os acréscimos do livro de Daniel. Ao longo de sua vida, São Jerônimo rejeitou o livro de Ester e aceitou o livro de Judite. No fim de sua vida, entretanto, São Jerônimo já havia aceitado todos os livros que temos hoje em nossa Bíblia.
Houveram, todavia, concílios regionais que ocorreram sob a assistência de grandes doutores, como Santo Agostinho de Hipona. Os Concílios de Hipona (393 d.C.) e Cartago (397 d.C.) que ocorreram sob o consentimento do Papa da época já haviam deixado a lista dos Livros Sagrados exatamente igual a mesma usada pela Igreja Católica nos dias de hoje. A falta de unidade dos protestantes, entretanto, faz com que eles digam que esses concílios são regionais e que isso significa que apenas algumas Igrejas usavam o nosso cânon atual. Entretanto, sabemos que na Igreja Católica há a unidade e que um concílio regional não tem força para mudar nenhuma decisão da Igreja inteira, portanto, o cânon mencionado nesses concílios era o cânon universal, apenas reafirmado nesses concílios.
Outra confusão que é feita é quanto à palavra cânon. Antigamente, especialmente depois dos concílios de Cartago e Hipona houve a segregação de Livros Inspirados. A lista dos Livros Inspirados era dividida em Livros Canônicos (livros inspirados de leitura nas assembléias) e Livros Eclesiásticos (livros inspirados para outros estudos). Essa divisão não diminuía em nada a inspiração atribuída aos livros nelas contidos.
Os Livros Eclesiásticos estavam distribuídos no Antigo e no Novo Testamento. Os livros do Antigo Testamento eram I e II Macabeus, Ester, Tobias, Judite, Sabedoria e Eclesiástico. Entre os Livros Eclesiásticos do Novo Testamento podemos citar o Apocalipse, a Epístola de São Tiago, a Carta aos Hebreus, A Segunda Carta de São Pedro e as cartas II e III João. Entre os Livros Canônicos do Antigo Testamento estava o livro de Baruc, que era um acréscimo de Jeremias e que hoje não está mais presente nas Bíblias Protestantes. Os demais livros eram todos chamados de Livros Canônicos.
O tempo foi passando e em maior ou menor grau os Livros Eclesiásticos passaram a ser mais difundidos até que o Concílio de Florença que ocorreu entre 1443 e 1445 d.C. resolveu por fim a essa segregação entre Livros Eclesiásticos e Livros Canônicos. A partir desse concílio (que foi um concílio universal), todos os livros inspirados passaram a ser chamados de Livros Canônicos e na lista estavam todos os livros antes chamados de Eclesiásticos, ou seja, o cânon foi plenamente definido só no Concílio de Florença, que por sinal, foi anterior a Reforma Protestante. Vemos, entretanto, que mesmo antes desse concílio, os Livros Eclesiásticos já eram tidos como inspirados, mesmo não sendo chamados canônicos.
Os protestantes alegam que foi o Concílio de Trento, ocorrido entre 1545 e 1563 d.C. que adicionou livros blasfemamente chamados de apócrifos na Bíblia Católica. Isso é uma mentira sem tamanho e fora todos os testemunhos dos Santos Padres do período patrístico (primeiros séculos do cristianismo), temos ainda documentos históricos que derrubam essa farsa.
Um desses documentos é a Bíblia de Gutenberg. A Bíblia de Gutenberg, primeiro livro impresso do mundo (impresso entre 1450 e 1455 d.C.) contém o cânon exatamente igual ao que se tem hoje na Igreja Católica. As Igrejas Ortodoxas, em suma, usam um cânon idêntico ao católico. Algumas dessas Igrejas de nossos irmãos pós-cisma não têm o cânon igual ao nosso, mas as adições e os cortes foram feitos com o tempo. Como o Cânon Católico só foi formulado entre 1545 e 1563 d.C. se os ortodoxos se separaram de uma vez por todas da Santa Igreja Católica Apostólica Romana já em 1055 d.C.? E como os livros chamados de apócrifos pelos protestantes foram adicionados só no Concílio de Trento se 100 anos antes desse eles já estavam na Bíblia Católica de Gutenberg? E mais duas questões. Se era para seguir o cânon antigo, o que faz o livro de Ester na Bíblia protestante junto aos deuterocanônicos do Novo Testamento? Por que então o livro de Baruc não está presente na Bíblia protestante? São perguntas que não podem ser respondidas, não?
A verdade é que o cânon protestante seguiu o judaísmo do período pós-Cristo (quando os judeus já não tinham mais nada que ver com os cristãos) para o Antigo Testamento e o Catolicismo para o Novo Testamento. Por quê? Porque se não tivessem feito os cortes que fizeram seria impossível fundar suas novas igrejas. Teriam de aceitar a intercessão dos Santos, o purgatório e várias outras doutrinas que a Igreja Católica professa e que as Igrejas Ortodoxas professam também em menor ou maior grau. É certo que as Igrejas Ortodoxas não crêem no Purgatório, que só foi definido (e não inventado pela Igreja Católica) após o cisma de 1055 d.C., mas as Igrejas Ortodoxas também oram pelos seus mortos, o que mostra também que a doutrina de não realizar tal ato é estranha ao cristianismo autêntico. Muitos teólogos ortodoxos também defenderam o purgatório, mas a questão com essas Igrejas é mais complicada porque elas têm cada uma sua própria tradição e não se pode ter uma generalização dos cismáticos.
A questão é muito simples, como não se pode defender com argumentos válidos as doutrinas protestantes, é mais cômodo inventar um fato aqui, omitir um dado ali, para assim moldar igrejas de acordo com a necessidade que mais interessa. Mas a questão é, onde Jesus pregou a divisão? Onde Jesus pregou a mentira e a omissão? Há alguma parte na Bíblia que manda “Omitam informações que vos prejudiquem” ou alguma que diz “Inventem argumentos para justificar vosso proceder”?
Esperamos essas respostas da mesma forma que esperamos ansiosos e com ardentes orações que esses irmãos retornem a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, que é a casa de todo Cristão.
In corde Iesu et Mariae semper!
Eduardo Moreira.
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