Grupo de Jovens Ágape

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Para o Grupo de Jovens Ágape aprender a viver uma vida em comunidade à luz dos valores cristãos, constituindo a unidade e comunhão entre o grupo é o nosso maior propósito...afinal somos mais que participantes do mesmo grupo ou simplesmente amigos... o nosso valor principal é fazer parte de uma família...a família Ágape.

sábado, 18 de setembro de 2010

Pequenino grande homem - São Francisco de Assis

A vida de Francisco, desde o início e cada vez mais depois, com o decorrer do estudo histórico, religioso e teológico, adquiriu significados que ultrapassaram e muito o sentido literal das peripécias do poverello. Desde o começo já se pode perceber uma tensão, em sua vida, entre a humildade e a glória, a simplicidade e a complexidade, a literalidade e a profundidade. Quando o jovem Francisco quis ganhar a glória, Deus o quis humilde e pobre. Já quando ele quis reformar apenas a pequena Igreja de São Damião, Deus o quis reformando toda a Igreja Católica. Nesses dois exemplos emblemáticos, vemos que há um movimento duplo, um humano e um divino. O movimento humano, de Francisco, é um movimento pequeno e limitado. Seus sonhos, mesmo quando grandes e generosos, não chegam aos pés dos sonhos que Deus tinha para o pequenino santo, e, extensivamente, que Ele tem para todos os seus filhos. Mas os dois movimentos não são contraditórios. Francisco, na sua insistência em viver a Palavra e a vontade de Deus ao pé da letra, indicava que o papel humano é de ser simples e humilde diante de Deus, completamente aberto à sua ação. Deus é quem age na vida humana, Ele quem faz sua grandiosa e gloriosa obra.

Mas as mudanças que ocorriam já afetava a Igreja. A riqueza econômica aumentava, e a própria Igreja enriquecia muito na época. Havia então dois problemas que ela precisava resolver: por um lado, a antiga religiosidade centrada nos mosteiros rurais e nas orações dos monges já não respondia à exigência dos fiéis que passavam a viver nas cidades; por outro lado, a riqueza que a Igreja granjeava, ao invés de abrir-lhe novas possibilidades de ação humana, de evangelização e missão, estava dando-lhe, sim, um peso extra, pois ela agora se inchava com suas posses, tornava-se responsável pela administração de bens mundanos que atrapalhavam sua missão espiritual.

Francisco veio justamente responder a essas questões. Em primeiro lugar, na sua proposta radical de uma pobreza absoluta ele revigorou a Igreja com a visão de que seu papel no mundo não é gerir os bens do mundo, mas os bens espirituais do Céu. Como escrevi acima, o significado humano de sua vida vai além do que ele mesmo pretendeu. A Igreja percebeu, desde o início, com a reformulação da regra da Ordem dos Frades Menores (esse é o nome oficial da ordem), que a pobreza franciscana não devia ser tão material quanto de ordem espiritual. A riqueza que Deus dá aos homens, as posses e os poderes do mundo, não devem ser desprezados nem relegados, mas administrados na absoluta entrega da Igreja à missão que Deus lhe confia: evangelizar e transformar o mundo de acordo com os valores humanos e evangélicos. A Igreja deve sim ser pobre, mas no sentido de ser despojada de toda ambição para si mesma. Ela não pode desprezar as possibilidades de ação que o próprio Senhor dá a ela. A riqueza deve ser vista não como um fim, mas com um meio, um instrumento de ação no mundo.

Seu Cântico das Criaturas, nesse sentido, é uma novidade na Igreja, abrindo uma nova visão de humanidade e mundo. Somos todos criaturas de Deus, e a criação inteira é de um frescor, uma beleza e uma bondade que ela recebe todos os dias das mãos benignas e providentes de nosso Deus. Não foi à toa que Francisco foi escolhido, no final do século passado, como o homem mais extraordinário do II milênio. Foi ele que iniciou o movimento do Humanismo, que hoje temos que defender dessa onda de relativismo humano que grassa na nossa Pós-Modernidade. Nós não podemos perder a herança maravilhosa da espiritualidade humanística que nasceu com o Pobrezinho de Assis, um santo tão apaixonado, tão cândido, tão sentimental, tão humano que nos deixou mais visível a face humana de Deus.


Ney César

Grupo Ágape

De volta ao primeiro amor